segunda-feira, 10 de março de 2014

Mais sentimental que o normal... (3)

   Estudou e trabalhou naquele dia, exatamente como fez nos dias anteriores.
Voltou para a casa com o ônibus vazio. Cobrador mal humorado. Ele lentamente conta o troco enquanto o automóvel joga Clarisse de um lado para o outro. 
    Ela sente que o caminho parece se esticar. "Aquela casa que não chega". E sua vida confiada a um motorista sonolento e um cobrador sem sorriso.
    Pensava em sua chegada, em outro banho quente e uma comida para forrar o estomago. Almejava seu ritual. Aquele monótono retorno ao lar.
    Sua irmã já estaria dormindo, e sua mãe assistindo a novela das nove, aquela do moço que não pode ficar com a moça porque ela é de família nobre. Ou alguma coisa do tipo.
    Ela daria um beijo na mãe e deixaria a bolsa no sofá. "Volte Clarisse! Seu celular não me deixa escutar o drama". Os barulhos das mensagens atrapalhavam a fala corrida do moço, que se desculpava por chorar debilmente na frente da moça nobre. 
    O ruído vinha das conversas triviais e sem assunto dos grupos sociais. Clarisse não era alienada, mas aquele "Bip!" frenético era um convite irrecusável ao ócio.
     Parou um pouco de prevê sua chegada, pois já estava chegando. Puxou a corda e esperou o veículo parar desajeitadamente. Desceu e caminhou alarmada até em casa. 

    Antes pensava em sua chegada. Em outro banho quente e comida para forrar o estomago. Agora só queria ir para o seu quarto. Leria um novo o capítulo. Deixaria que as palavras escorressem quentes e tranquilizantes por sua garganta, como o chá de camomila que seguraria entre as mãos naquela noite fria e compassiva.




Opiniões por aqui: nadadeacaso@outlook.com
Se preferir deixe seu comentário. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário